
Diz-se que as bolsa antecipam a economia e curiosamente o índice inglês foi o que menos caiu. Será isto um sinal? As bolsas francesa, alemã, espanhola e portuguesa caíram a dobrar ou mais. No caso do Ibex o tombo foi de 12%, o pior desempenho de sempre da bolsa espanhola, também à espera do resultado das eleições. Há dois cenários conclusivos a retirar do referendo à saída britânica da UE.
O primeiro ministro inglês e o seu partido ousaram desafiar a rigidez das políticas da UE. Cameron mostrou que não é homem de ter medo e apostou no referendo à permanência na UE como forma de ultimato a Bruxelas. Cameron apostou todas as fichas no referendo tendo com "seguro de vida" a ideia de que a maioria dos britânicos jamais iriam querer abandonar a UE. Uma jogada de risco com uma arma de arremesso pesada.
Só que a jogada de poker saiu furada. Cameron brincou com o fogo e queimou-se. A aposta foi alta e a brincadeira pode ter saído cara ao país e ao resto do mundo. O primeiro ministro inglês nunca imaginou que o Brexit pudesse, um dia, tornar-se realidade. Como dizia um cantor tem cuidado com aquilo que desejas porque um dia pode tornar-se realidade. E talvez o partido de Cameron nunca tenha pesado bem as consequências económicas de uma vitória do Brexit. Muito provavelmente nunca existiu um plano B para a vitória do Brexit tal era a confiança no Bremain. Se tal for verdade a convocatória do referendo foi uma autêntica infantilidade.
Nem no pior cenário Cameron pensou numa vitória do Brexit. Quando as sondagens começaram a mostrar uma vitória inesperada do Brexit Cameron começou a sentir-se encurralado e aprisionado pelo seu próprio feitiço. O tiro saiu pela culatra e será difícil imaginar quais serão as consequências económicas e financeiras para o Reino Unido. Cameron corre o risco de ficar na história como o homem que conduziu a economia britânica à ruína com uma simples "brincadeira". As consequências políticas foram imediatas com a demissão de Cameron. Quem com ferro mata com ferro morre.
E não foi só Cameron que brincou com o fogo. Muitos eleitores britânicos mostraram-se arrependidos após terem votado no Brexit já que não pensaram que haveria implicações económicas. A queda da libra para valores registados há 30 anos mostra que os britânicos perderam no imediato poder de compra face ao euro. Os empresários britânicos que apostaram no Brexit podem ter votado na ruína dos seus próprios negócios. Uma certa inconsciência e ignorância reinou no referendo acabando por atirar muitos britânicos para dificuldades financeiras até antes inexistentes. Muitos britânicos pensaram, erradamente, que isto era apenas um referendo contra os imigrantes e Bruxelas.

É possível que o Reino Unido enfrente dificuldades financeiras no curto e médio prazo, mas o Brexit pode trazer um segundo cenário não desprezável. A saída da UE pode fazer com que a economia britânica ganhe um novo impulso. Isto seria um mau sinal para a UE e obrigaria Bruxelas a rever as suas políticas. O sucesso económico do Reino Unido após o Brexit será um claro sinal de derrota para os defensores da austeridade europeia. Os argumentos de Merkel cairão por terra. E com isto abre-se uma caixa de pandora já que outros países poderão querer seguir o mesmo rumo. E candidatos não faltam. O primeiro será a Grécia, o maior fustigado com as imposições políticas europeias de austeridade que já vai no terceiro resgate.
Quanto às agências de rating, estranhamente permanecem em silêncio sem "atacarem" o rating de Inglaterra e não proferem qualquer comentário relativamente ao Brexit.
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